Precisamos como povo deixarmos de ser corruptos. Sendo honestos, não mais veremos corrupção à nossa volta.

Sonho com o dia em que corrupção será apenas conhecida dos livros de história.

Corrupção é a maior das mazelas. Origem de tantos outros desarranjos individuais e sociais. O abuso, a violência e tantas mais derivam dela. No caso brasileiro, evidente também que até a fome, a educação e a saúde precárias derivam também, direta ou indiretamente da corrupção.

Doença contagiosa quando aceita como comum, a corrupção se espalha se não for erradicada, exposta e tratada como tal.

Corrói o ser, sem que o mesmo perceba, até que já esteja em estado avançado. Analogamente a um câncer, a corrupção traz à tona, no nível do ser, seus sintomas destrutivos através da Justiça, da vingança ou do mal que se faz aos semelhantes.

Corrói a sociedade, pois quando se instala como uma epidemia endêmica gerando metástase em todo tecido social, passa a ser aceita, tolerada ou no pior sentido possível, passa a ser vista como algo comum, normal e que sempre existiu e vai continuar existindo.

A expressão “rouba mas faz” aceita por toda uma geração, que reelege políticos que sabidamente roubaram enquanto no poder cria a sensação de que não há outro jeito, de que não vai mudar nunca.

A corrupção quando aceita, gera filhotes, levando para o campo do aceitável, o que uma sociedade sadia e as pessoas com valores jamais aceitariam. Os pequenos gestos, atitudes e omissões vão criando espaço para a aceitação coletiva e a tolerância com a corrupção.

Exemplos não faltam. A propina ao guarda de trânsito para se evitar uma multa, a cola na prova, a mentira dentro de casa, o consumo de produtos roubados, falsificados, contrabandeados em camelôs ou por “sacoleiros” de luxo ou meramente “sem nota”, a consulta médica “sem recibo”, o voto vendido, o CD ou DVD pirata e tantos outros hábitos vão aos poucos validando a “lei de Gerson” e tornando os agentes e pessoas à sua volta reféns, dependentes e viciados no hábito de roubar, corromper, de aceitar, conviver e mesmo promover o ilícito, o imoral e o errado.

E com isso vai se formando a cultura da corrupção, onde de pequenos atos, ditos inofensivos ou camuflados de esperteza, vai se legitimando aos poucos uma sociedade corrupta.

Daquele que leva a caneta embora do trabalho, ou a moeda de cinquenta centavos que não era sua, para aquele que desvia milhões ou bilhões da Petrobras, não diferença alguma de caráter ou culpabilidade, apenas há diferente circunstância e oportunidade.

Há um enorme equivoco na expressão “a ocasião faz o ladrão”. De fato, essa expressão não é verdadeira e serve apenas ao circo ilusório de validar a condição de fraqueza humana no que diz respeito à corrupção, levando para fora do Ser a responsabilidade pelo ato de roubar. Ou seja, colocando na “ocasião” ou circunstância e oportunidade a responsabilidade ou culpa pelo roubo.

Na verdade, dada uma situação ou ocasião é que se apresenta o ladrão.  O Ser ainda corruptível encontrando a ocasião não resiste ou aproveita, consciente ou inconsciente do que está fazendo e na maioria das vezes iludido sobre as consequências de seu ato para si e para os outros.

Com este raciocínio, é errado também atribuir a característica de corrupto a uma determinada classe ou grupo, como se faz atualmente com os políticos. Ocorre apenas a manifestação do ladrão, do corrupto, de um cidadão que com o voto de outros chegou ao poder e, bem ou mal intencionado, teve a ocasião favorável para por à prova sua incorruptibilidade e falhou.

Quando um povo, ainda contaminado pela doença da corrupção, elege cidadãos contaminados também, é óbvio que o reflexo disso é termos políticos corruptos como consequência.  Mas já passou da hora de entendermos o efeito causal, a causa raiz do problema e não apenas seus sintomas.

A causa do problema não é termos políticos corruptos. Afinal de contas, quem elege um político num sistema democrático como o nosso? O próprio povo o faz.

O grande problema é termos uma sociedade ainda composta por muitas pessoas com a doença da corrupção. Algumas delas chegam ao poder e encontram as circunstâncias e as oportunidades de desviarem recursos públicos de sua finalidade e não hesitam em fazê-lo. Outras buscam a política apenas para esse fim. Algumas elegem-se e se iludem com o poder e precisam de recursos para se manter no poder a qualquer custo, aderindo ao maquiavélico ensino de os fins justificam os meios.

E assim se criam as condições que mantém o sistema corrupto, a sociedade doente. Não sem colocar na conta um fator crucial: a impunidade.

Quando um crime compensa, aumentam a quantidade de vezes e de pessoas dispostas a praticá-los. Quando o crime não compensa e se descoberto há justiça e  punição em tempo, desestimula-se a sua prática, se não por valores, mas por no mínimo por medo de ser pego.

E como sair dessa ilusória percepção de perpetuação da condição de corrupção que nos encontramos? Como buscar a incorruptibilidade como valor fundamental de um povo?

O caminho passa pela busca individual de alguns em se tornarem incorruptíveis  e com seu exemplo e conduta contagiar positivamente outros, e mais outros.

Passa também por quem não mais tem a corrupção na mente e na alma ensinar a seus filhos, a seus pares, vizinhos, amigos e todos em sua rede social. Passa por não mais ser omisso nos pequenos casos de corrupção e inclusive, se for necessário, denunciar o que estiver vendo de errado, de corrupto.

Passa pela consciência de que é responsabilidade do cidadão eleger seus representantes e que pesquisar sobre a incorruptibilidade do candidato é mais importante que sua capacidade, promessas e discursos.

Passa enfim, por sermos agentes da mudança em nossas próprias vidas, fazendo da correção e da honestidade pilar de nossos valores, de nossas práticas e de nossas palavras e ações. Passa, como disse Gandhi, por sermos a mudança que queremos ver no mundo.

Precisamos como povo deixarmos de ser corruptos. Sendo honestos, não mais veremos corrupção à nossa volta.

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